Lídia

O meu nome é Lídia e fui violada há vários anos. Nada ajudou a condenar o violador ou violadores; após dois anos à espera de receber os resultados dos testes de ADN que fizeram à minha vagina, encontraram ADN de três homens.

Quando recuperei a consciência, estava nua ao lado de um homem nu que não conhecia, num apartamento onde nunca tinha estado. Estava perdida, magoada, com feridas nos braços, no pescoço e nas pernas. A análise à urina deu positivo para cocaína. Estava drogada.

Fui para o hospital: fizeram testes de ADN, análises forenses, análises à urina, fotografias, etc. A polícia encontrou o autor do crime no dia seguinte, porque eu sabia em que rua tinha acontecido. Só passou um dia na cadeia. A polícia não investigou, não verificou o telemóvel do violador, não viu as imagens das câmaras de segurança dos bares onde eu ia. Mas tive de passar por um interrogatório: perguntaram-me se estava a usar soutien nessa noite, o que tinha estado a beber e disseram-me para não me preocupar muito porque havia pessoas com problemas mais graves do que eu. Desculpem queixar-me por ter sido violada; eles simplesmente violaram-me, magoaram-me e obrigaram-me a ter relações sexuais sem o meu consentimento e inconsciente.

O caso foi arquivado sem sequer ir a tribunal. A resposta da polícia foi “talvez se tenha magoado porque estava bêbada; talvez tenha concordado em consumir cocaína. Não sabemos se concordou em ir para o apartamento. Ele diz que concordaste em ir”.

STOP

Precisamos de legislação a nível da UE que realmente nos proteja, que não nos questione; que confie em nós.

Precisamos formar agentes das forças de segurança para que tratem as vítimas com respeito e empatia.

Temos de garantir a existência de programas de resposta a casos de violência sexual em hospitais de toda a Europa, como o Hospital Clínico de Barcelona, a cujo pessoal ficarei eternamente grata.

Precisamos de centros de crise de violação que nos ajudem e nos acompanhem neste processo incrivelmente difícil, quer as vítimas queiram ou não apresentar queixa.

É extremamente difícil ser violada e não saber o que nos aconteceu quando estamos inconscientes; mas também é muito difícil enfrentar a polícia e o processo judicial e médico. Nós, vítimas, precisamos ter acesso à justiça e precisamos que o processo judicial seja rápido, para que possamos tentar ultrapassar o trauma psicológico o mais rapidamente possível.

Quatro anos mais tarde, continuo a ter sintomas de stress pós-traumático, enquanto os autores do crime estão em liberdade.

Não olhem para o outro lado; este é um problema global e os senhores, enquanto decisores da UE, têm a obrigação de garantir que as mulheres possam viver os seus direitos de liberdade e justiça.

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